Além dos típicos votos de Feliz Natal e de Feliz Ano Novo, algumas das
frases que mais se ouvem nesse período incluem as resoluções de mudança
pessoal: “Em 2014 eu vou parar de fumar definitivamente!”; “Iniciarei minha
dieta, pra valer, no dia 1o de janeiro”;“No próximo ano eu passarei mais tempo
com meus filhos”; “Vou começar a economizar dinheiro”. Por que essas resoluções
geralmente falham? Por que é tão difícil romper com a automaticidade dos
hábitos? Diversos desses fenômenos são investigados na psicologia social, que
fornece não somente explicação, mas também maneiras pelas quais podemos ter
melhor êxito.
Um primeiro erro de planejamento nessas resoluções de fim de ano é focar
em grandes metas (p.ex. “vou emagrecer 20 kilos”). Elas acabam sendo percebidas
como irreais e são facilmente abandonadas. Quando planejadas em etapas menores
(p.ex. “vou emagrecer 2 kilos nesta semana”), tornam-se factíveis no dia-a-dia
e garantem o reforço positivo que precisamos para continuar com a mudança.
Outro erro frequente é se comprometer com várias resoluções ao mesmo
tempo. As pesquisas mostram que mudanças de hábito simultâneas geram
dificuldades exponenciais. Em muitas dessas situações as pessoas acabam fazendo
autoconcessões. Pior ainda, não cumprir uma certa resolução acaba por afetar
outras.
Dois modelos têm se destacado para explicar a boa mudança de hábitos,
reunindo décadas de aplicações robustas em diferentes áreas. O primeiro foi
desenvolvido por Martin Fishbein e Icek Ajzen na década de 1970. A teoria do
comportamento planejado mostra que a atitude (“parar de fumar é algo bom para
minha saúde”) não é suficiente para predizer nosso comportamento. A mudança
depende também do quanto achamos que outras pessoas esperam isso de nós (“minha
esposa certamente espera que eu pare de fumar”) e do quanto acreditamos que a
mudança está sob nosso controle (“eu consigo parar de fumar por conta
própria”). Juntas, essa variáveis constituem a chamada intenção comportamental,
que as pesquisas mostram guardar maior correlação com o comportamento.
O segundo modelo investiga os mecanismos de autocontrole. Nos trabalhos
de Peter Gollwitzer iniciados na década de 1980, verificou-se que formar
intenções de implementação facilita a manutenção de comportamentos adequados em
situações difíceis, como a recaída em um hábito. Nesse caso, a teoria mostra
que estímulos do ambiente podem servir como fonte de regulação do
comportamento, se nos programarmos para uma lógica de “se... então...” (“Se me
oferecerem refrigerante, eu vou preferir um suco natural”). Isso torna o
autocontrole mais eficaz, porque passamos a depender menos de decisões
conscientes.
A recomendação mais contra-intuitiva das pesquisas sobre resoluções é a
de que não as comuniquemos publicamente. O simples ato de contar aos amigos ou
familiares aquilo que pretendemos implementar acaba tendo um efeito contrário.
Quando falamos da resolução, somos imediatamente reforçados com elogios,
incentivos e sorrisos, dando-nos uma falsa sensação de que já estamos colhendo
os benefícios. Para evitar esse efeito reverso, é muito mais eficaz a
estratégia de registrar, para si mesmo, os pequenos passos de uma boa
resolução. Isto pode ser feito em papel ou em softwares e aplicativos que nos
ajudam a administrar gastos, horas de sono, quantidade de copos d’água que
tomamos diariamente, entre outros.
Em suma, o problema não é nossa capacidade de cumprir metas, mas a
maneira equivocada como muitas vezes as concebemos e as planejamos. As
resoluções de ano novo devem ser preferencialmente enquadradas de forma
separada, a partir de seus resultados positivos (promover soluções, ao invés de
prevenir problemas) e como um processo de aprendizagem (foco no progresso
contínuo, não na performance de um dado momento, que pode ser frustrante). Mas
a maior questão talvez seja também a mais simples e imediata... Por que esperar
uma data específica para começar a sua mudança?
*Fabio Iglesias e Ronaldo Pilati são professores do Departamento de Psicologia Social e do Trabalho e coordenadores do Laboratório de Psicologia Social da Universidade de Brasília.
*Fabio Iglesias e Ronaldo Pilati são professores do Departamento de Psicologia Social e do Trabalho e coordenadores do Laboratório de Psicologia Social da Universidade de Brasília.
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