Se o bombardeio midiático de saturação contra o governo Dilma obtiver êxito e conseguir eleger um tucano como presidente no ano que vem, pode-se prever grandes mudanças na política econômica do país. Mudanças que podem ser desastrosas.
A similaridade entre o discurso do pré-candidato tucano Aécio Neves e o dos analistas e editorialistas da grande imprensa já permite ver algumas mudanças práticas que sobreviriam.
Em primeiro lugar, Aécio já encampou a pregação dos jornais e revistas semanais sobre o estímulo à economia via gastos públicos.
Em recente propaganda partidária do PSDB, o pré-candidato tucano defendeu controle de gastos públicos para conter a inflação. Esse discurso é exatamente o mesmo que o dos jornais Folha de São Paulo, O Globo e Estadão, além de revistas como Veja e Época.
Veja, abaixo, vídeo contendo recente propaganda partidária do PSDB em que Aécio acusa o governo de “gastar mais do que arrecada” e que isso precisa mudar para diminuir a inflação. Em seguida, leia trecho de editorial da Folha que diz exatamente o mesmo.
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Propaganda partidária do PSDB
22 de maio de 2013
FOLHA DE SÃO PAULO
Editorial
Um plano Dilma
2 de junho de 2013
“(…) O governo deve renunciar à insensatez de tentar estimular a economia com gastos públicos enquanto o BC se dedica à missão contrária de desincentivar crédito e consumo, necessária para debelar a inflação (…)”
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Como se vê, ambos dizem a mesma coisa. No vídeo, Aécio diz, textualmente, que “Hoje, o governo federal gasta mais do que arrecada” e que, por isso, “A conta não fecha”, referindo-se à causa da inflação.
O gráfico abaixo mostra que o PSDB não tem como dar lições nesse assunto. A relação dívida-PIB que ilustra está desatualizada porque o estudo é de 2010 e, assim, os resultados daquele ano, de 2011, 2012 e 2013 estão desatualizados. Contudo, mostra a situação concreta entre 1984 e 2009.
Como se vê, a relação entre o Produto Interno Bruto e a dívida líquida do setor público começou a piorar entre 1995 e 2002, último ano do governo do PSDB, quando chegou a 60% do PIB. Depois, veio caindo. Em abril deste ano, estava em pouco mais de 35%.
Esse é um dos indicadores mais eloquentes sobre o Estado de uma economia. Sim, a dívida veio crescendo nos últimos meses, mas, ainda assim, não há uma situação explosiva como a da era tucana.
Todavia, seria possível o governo melhorar ainda mais esse número se seguisse o conselho da mídia e do PSDB sobre “renunciar à insensatez de tentar estimular a economia com gastos públicos”.
Mas há um probleminha nessa política. Antes de explicar qual é, analisemos o patamar atual da economia brasileira em relação ao de 2002, último ano do governo FHC.
Em 2012, o PIB brasileiro foi de 2,5 trilhões de dólares; em 2002, foi de 450 bilhões. Ou seja: em dólares, a economia brasileira é hoje CINCO VEZES maior do que a de uma década atrás.
Nos últimos dez anos, portanto, houve uma revolução na economia brasileira que nos deu condições de usar o investimento do Estado para promover o crescimento.
Além disso, a política brasileira é bem sensata e produto de uma decisão do governo que se sustenta em um fato real: gastamos porque podemos.
Em abril, o governo divulgou que pode haver relaxamento da meta de superávit em 2013 e 2014. Superávit primário, para quem não sabe, é a diferença entre receitas e despesas do governo, excluído o valor dos juros da dívida pública, que, hoje, é muito menor em relação ao tamanho da economia.
O Brasil não tem como incluir os juros nessa conta, mas o indicador que define o Estado da economia não é o tamanho da dívida pública e sim a sua relação com o PIB, ou seja, quanto o governo deve em comparação com a riqueza que produz anualmente.
Ora, Lula chegou ao poder com uma dívida pública líquida que representava 60% do PIB e, hoje, com Dilma, esse percentual está em 35%.
Podemos – e devemos –, portanto, usar essa situação inédita na economia brasileira para fugir de uma política que teria como contrapartida um verdadeiro desastre social no país.
O desemprego só está baixo, hoje, porque o Estado lidera os investimentos no país com programas sociais (como o Bolsa Família) e de infraestrutura (como o PAC). Uma redução consistente nesses gastos, visando aumentar o superávit primário, teria como consequência o aumento do desemprego e a redução da renda e dos salários.
Aécio e a mídia ligada ao PSDB afirmam que essa política reduziria a inflação e aceleraria o crescimento.
Quanto à inflação, o arrocho salarial e o desemprego poderiam, sim, reduzi-la um pouco, mas de que adiantam preços mais baixos se o povo estiver desempregado e quem tiver emprego estiver ganhando muito menos?
Hoje, a população não sente a crise econômica que está gerando convulsão social em grande parte dos países ricos, sobretudo na Europa. A política que a mídia prega e que o PSDB deixa ver que pode adotar, no entanto, importaria essa convulsão para o Brasil.
A você que acredita no que dizem a mídia tucana e o partido que ela quer reconduzir ao poder, portanto, tenha em mente que, se o PSDB voltar ao poder, é certo que haverá mais desemprego e salários menores. E que você pode ser atingido por essa situação.
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