sábado, 31 de dezembro de 2016

Brasil ou Brasil


Por considerar uma síntese das análises políticas  de 2016, republico o texto de Fernando como último post do ano:
Fernando Rosa
É verdade que sofremos um golpe de Estado sob bater de panelas sem esboçar reação de gente grande por não compreender seu caráter, origem e dimensão. Muito mais frágil institucionalmente do que o Brasil, a Venezuela deu um “chega pra lá” nos golpistas, assim como fez a Turquia, recentemente. Mas as lições apreendidas, somadas à nossa experiência histórica, apontarão o caminho para construção de uma direção para a luta, se não com as lideranças atuais, com as que virão.
Para tal, no entanto, é decisivo que o Brasil supere históricas dificuldades de atitude, sejam por ingenuidade ou traição, como advertiu o jornalista e professor Nilson Lage, em artigo no blog Tijolaço. Identificar seu verdadeiro inimigo, em primeiro lugar, e também assumir-se enquanto Nação e compreender o papel das Forças Armadas no processo de construção do país são tarefas imediatas. É preciso desatar esses nós para derrotar este golpe de Estado em curso e abrir caminho para a afirmação de uma Nação madura, com inserção soberana e multilateral no mundo.
Diferente do golpe de Estado de 1964, o atual é muito mais profundo e destrutivo interna e externamente, exigindo, portanto, considerar diferenças históricas, políticas e econômicas. Em 2016, a burguesia rentista nacional literalmente enfiou seus “colegas de classe” produtivos na cadeia, do que é símbolo Marcelo Odebrecht, diretor da maior empreiteira do mundo. Em 1964, os golpistas atacaram os direitos sociais e trabalhistas, mas mantiveram uma progressiva política de desenvolvimento, que culminou com o II PND, no governo Geisel.
No “front” externo, em 1964, havia um alinhamento a uma política de “guerra fria” que, de alguma maneira, resultava em investimentos de capitais na economia nacional. Atualmente, a vitória de Donald Trump nas eleições norte-americanas significou uma profunda derrota ao neoliberalismo global e predatório, ao qual os golpistas nativos submeteram-se econômica e ideologicamente. O mundo caminha na contramão do ideário ultrapassado dos golpistas, com afirmação cada vez maior das economias internas, dos empregos, da valorização das Nações.
O plano do sistema financeiro e da indústria bélica internacional era, a partir da vitória de Hillary Clinton, investir contra a Russia, a China e todos os seus aliados e projetos. O Brasil sempre foi um alvo central, para afastá-lo do BRICS, desde a espionagem da NSA, a captura dos agentes internos, a “primavera” de 2013 e, finalmente, o golpe judicial-parlamentar. A derrota dos Clinton e seu fantoche Barack Obama deixou os golpistas nativos à deriva, expostos às desesperadas medidas sociais, econômicas e políticas que apenas aprofundam o desastre.
No entanto,  a gangue rentista internacional e nacional definiu novas regras para a disputa do poder, afirmando alto e bom som que “o Estado brasileiro é meu”, ao apropriar-se da metade do Orçamento da União, por meio meio da PEC 241/55. Assim, apenas uma volta à aliança do “ganha-ganha”, com os preços altos das “commodities”, dos governos Lula e Dilma, já não é mais remédio para a doença que se abateu sobre a economia do país. A desmoralização das instituições, por outro lado, também exige novas soluções políticas, sem o que nem mesmo as “eleições diretas” sobreviverão a um novo assalto dos rentistas no futuro.
O Brasil precisa, portanto, antes de mais nada, posicionar-se no mundo, no jogo da geopolítica mundial, ocupando o espaço que lhe é devido, por sua condição social, econômica e geográfica. Isso não é papel apenas dos políticos, mas de todos os patriotas, em especial, neste momento, das Forças Armadas, diante do ataque que ameaça destruir a integridade nacional. É urgente superar, de lado a lado, a falsa bandeira da “guerra fria” que dividiu a Nação entre civis e militares, como bem lembrou recentemente o Comandante-geral do Exército, general Villas Bôas, para fragilizar o país frente aos interesses externos.
É também necessário romper com as velhas e novas “teorias da dependência” e retomar o papel do Estado como indutor da economia, abandonado após o II PND, nos anos setenta. Na época, diante do “drama” dos economistas com o “problema da inflação”, o então presidente Geisel afirmava que “o problema número um era desenvolver o país, dar empregos, melhorar as condições de vida da população”. Nos anos setenta, o PIB brasileiro era o dobro do chinês, enquanto hoje o PIB da China é o maior do mundo, resultado da política de Estado adotada.
O inimigo do Brasil é o sistema financeiro internacional, com suas faces públicas, ocultas ou paralelas que, para tentar sobreviver, insiste em destruir economias e inviabilizar Nações. O “fim do mundo unipolar” está chegando a passos largos com a afirmação de uma nova hegemonia política e econômica a partir do BRICS, do qual o Brasil faz parte. O Brasil é uma Nação inevitável, com um amplo mercado interno, extensão territorial e variadas riquezas naturais, exigindo uma direção política que seja capaz de colocar-se à altura dessa dimensão histórica.
Fonte: Senhor X

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