A revista Imprensa debateu recentemente a qualidade do curso de
jornalismo no Brasil. Para isso os repórteres Guilherme Sardas e Jéssica
Oliveira, entrevistaram diversos jornalistas, especialistas e coordenadores de
alguns dos maiores programas de treinamento do país.
Com base nesta série de entrevistas publicadas entre os dias 4 e 8 de março de 2013 no Portal Imprensa, apresentaremos aqui o que os responsáveis pelos programas de treinamento dos jornais Folha de S.Paulo, O Estado de S.Paulo, O Globo, O Povo e da Tv Globo acham sobre os cursos de jornalismo do Brasil e os jornalistas por eles formados atualmente.
A editora-interina de Treinamento da Folha, Alessandra Balles, declarou sentir que “as faculdades não formam alunos nem com bagagem cultural/teórica, nem com experiência prática”, além disso há “a falta de jornais-laboratório (impresso, online, em rádio ou TV)”. O maior prejudicado por essas deficiências acaba sendo o jornalista recém-formado, que se vê diante de um mercado cada vez mais exigente e competitivo.
Para ela, a grade curricular deveria ser revista a cada ano, afim de acompanhar as necessidades do mercado, ou seja, “saber que as empresas jornalísticas precisam cada vez mais de profissionais capazes de atuar em várias plataformas, mas que tenham bagagem cultural para a produção de textos analíticos e aprofundados, ágil etc”.
Balles explica que a maior dificuldade dos selecionados no programa de treinamento da Folha é “a de ter boas pautas”, pois nossa geração, acostumada com as facilidades da internet, não possui o hábito de “abrir os olhos e ouvidos para a vida real”. Além disso, existe uma “falta de capacidade de improvisar”, o que pode ser resultado também da reduzida de prática de redação exigida nas faculdades. “Um estudante de jornalismo deveria escrever pelo menos um texto por dia, treinar clareza, concisão, agilidade”, afirmou.
Por outro lado, a editora-interina ressaltou que um dos pontos positivos dos “profissionais que saem das faculdades de jornalismo estão mais por dentro de como é a realidade da profissão, sem glamour, com longas jornadas, plantões”.
Marilena Oliveira, assistente da coordenação dos Cursos de Jornalismo de O Estado de São Paulo, classificou essa nova geração de jornalistas como profissionais de “cabeça aberta”. Segundo ela, “essa geração vem com uma cabeça que pode tanto escrever para a internet, rádio, impresso ou TV. Falta treino, mas ela tem a cabeça aberta”.
A profissional entretanto alertou: “Se o estudante chegar escolhendo, vai dançar. Não importa mais se vai fazer jornalismo na internet, rádio, TV, o repórter tem que ter qualidade, cuidado de apuração, ouvir várias fontes, ter ética”.
“O aluno tem que ser responsável pela sua formação. Por a culpa na faculdade é um tiro no pé”, concluiu.
Gabriela Cannela, analista de RH e responsável pelo programa de estagiários do jornal O Globo, observou que em nossos dias, “o profissional de jornalismo tem que ser um profissional que entende de tudo”. E “ele não pode começar já querendo só isso ou aquilo”.
Uma das dificuldades apresentadas pelos candidatos para o programa de estágio de O Globo, é a questão da escrita. “O candidato tem que saber escrever e bem. Sem erros de português, de concordância… Sentimos uma piora nesse aspecto.”
Mas o que realmente diferencia um candidato do outro? Segundo ela, é a bagagem cultural. “A pessoa que saiba conversar, que saiba se expressar bem, conhecer de vários assuntos. Você sente isso quando conversa com o candidato.”
Plínio Bortolotti, jornalista e diretor Institucional do Grupo de Comunicação O Povo, queixou-se de que “um dos principais problemas práticos é a dificuldade que boa parte dos estudantes têm em organizar um texto que faça sentido, com coerência e coesão. Ou seja, eles têm dificuldade em contar- ou relatar – uma história com começo, meio e fim”.
Apesar da falta de experiências culturais, históricas e até sobre conjuntura, Bortolotti vê na maioria dos selecionados uma vontade de aprender e um ânimo em seguir a carreira de jornalistas.
Questionando ainda a formação dada pelas faculdades atualmente, o diretor de O Povo acredita que a faculdade deveria “dar uma boa formação teórica, despertar nos alunos o desejo de conhecimento, e lhes ampliar o repertório cultural e humanístico”, pois na sua opinião, “a prática é mais fácil de aprender. Em seis meses em uma redação um recém-formado, se tiver boa formação, vai conseguir dominar os instrumentos básicos para se iniciar na profissão”.
Claudia Jorge, supervisora Executiva de RH do Programa estagiar da TV Globo alegou que “muitos dizem ter interesse em TV mas não conhecem com profundidade as diferentes mídias”.
Segundo ela, os estudantes tem apresentado diversas habilidades e competências, dentre elas estão “a facilidade com a tecnologia, viver experiências novas e inovadoras e amplitude cultural.”
A profissional alerta entretanto que “o relacionamento interpessoal deve ser aprimorado, pois atualmente os estudantes constroem relações informais por meio de mídias sociais utilizando a tecnologia. Quando chegam à empresa precisam rever esse formato, pois não sabem como lidar com as relações interpessoais mais formais”.
“O domínio da língua portuguesa é fundamental”, conclui.
3 comentários:
Olá! Gostei de ver minha matéria publicada no bolg de vocês, mas gostaria de que fosse mencionado que a fonte desta matéria é a minha página "Casa dos Focas", pois fui quem reuniu as entrevistas de minha amiga Jéssica do Portal Imprensa para redigir este artigo. Desde já agraceço! Emílio Coutinho
Está feito o registro, Emílio. Parabéns pelo excelente site!
Abraços,
Alfredo
Obrigado Alfredo Costa! Podemos combinar algum tipo de parceria do seu blog com o nosso. A Casa dos Focas é um espaço para debates e estudos sobre o jornalismo em geral. ;)Por favor entre em contato comigo através do e-mail: emilioocoutinho@gmail.com
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