quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Jogue o currículo fora, ele não serve para mais nada



 por Mauro Segura *

Luiz é recrutador da empresa XYZ. Estava com a responsabilidade de contratar determinado especialista para a empresa e, de repente, após seis meses de longa busca no mercado, chegou a suas mãos um currículo que parecia ser a salvação da lavoura.

O candidato se chamava Eduardo. O currículo mostrava nível super adequado de formação. Ele tinha experiência internacional - atuou em duas empresas na Europa. Eram experiências curtas, mas significativas. Eduardo se dizia autodidata, com disponibilidade para viajar bastante, capacidade para liderar times multifuncionais, sólido conhecimento em planejamento e perfil empreendedor.

Luiz pensou: "Ótimo, agora só falta uma coisa". E seguiu para o passo seguinte: verificar a presença do candidato na internet. Isso agora é rotina na empresa de Luiz. Ele constatou que Eduardo contribuia para dois blogs, nos quais escrevia sobre as áreas em que atua, sempre com boas e inteligentes colocações. Luiz sorriu, o candidato parecia perfeito.

Porém, em questão de minutos, também descobriu que Eduardo tinha presença em outros meios na web. No Facebook, Eduardo contava as suas aventuras nas baladas surgindo em algumas fotos com bebida alcoólica nas mãos, às vezes parecendo estar bêbado. No Twitter, escrevia sobre qualquer coisa, muitas vezes usando palavrões e satirizando o comportamento de pessoas públicas, como artistas e políticos. Vasculhando um pouco mais, Luiz encontrou citações dele em blogs e fóruns, onde falava mal do empregador, inclusive contando fatos internos das empresas onde trabalhou.

Luiz apresentou na empresa o currículo e o que achou na internet sobre o candidato. Houve três reuniões sobre o caso, com discussões acaloradas, cuja conclusão foi: "Apesar de o candidato ter o perfil profissional desejado, ele não atende ao perfil de pessoas que queremos ter dentro da empresa. Vamos continuar procurando candidatos".

Luiz telefonou ao candidato e explicou o ocorrido. Eduardo alegou que a empresa investigou sua vida particular e que isso não havia sido legal. Luiz disse que ele estava enganado, pois tudo que a empresa havia levantado era público, afinal tinha por base registros e rastros que o próprio candidato deixara na web.

O candidato se sentiu punido injustamente, dizendo que concordava que escreveu algumas coisas inadequadas na rede, mas que estava o tempo todo tentando apenas ser engraçado. Para ele, nada daquilo deveria ser levado a sério, pois havia sido apenas uma brincadeira.

O caso é complexo, apesar de simples. Existe uma distância enorme de percepção entre o que a empresa e Eduardo pensam. Para a companhia, o caso é grave, pois Eduardo é bom profissional, porém com questionável comportamento pessoal. Para o candidato, aquilo tudo na web era brincadeira sem importância. O caso é verdadeiro. Obviamente, todos os nomes foram trocados. Situações assim devem estar ocorrendo aos montes dentro das empresas.

Leia a íntegra no blog A Quinta Onda

* DIRETOR DE MARKETING, COMUNICAÇÃO DA IBM BRASIL

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