segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Quem quer analisar um filme (parte 2)


O professor Lisandro Nogueira revela os primeiros passos da análise:

"A análise do filme propriamente comporta os três pilares: descrição (análise da obra cinematográfica), comentário e interpretação. Conforme afirmei no post anterior, na composição do texto os três se fundem, para constituir o que se denomina a análise do filme. A apresentação separada dos três tem função exclusivamente didática.

Um artigo de jornal ou revista (dei o exemplo dos textos da Isabela Boscov da revista Veja) comporta geralmente a interpretação (opinião jornalística) e o comentário. Não há a descrição, que é a análise propriamente dita, pois o propósito é informar e fazer uma avaliação, tendo em vista um objetivo mais imediato.

O que faço na TV Anhanguera, às sexta-feiras, é uma mistura de comentário (informações extrafilme, sobre produção, atores, indústria etc.) com opinião e divulgação. Penso que o espaço serve também para divulgar as salas de cinema, o “ambiente cinema”, difundir a ideia de que é bom ir ao cinema ver um filme, compartilhar coletivamente um prazer bem moderno.

A análise do filme

O comentário pode ficar no plano da informação, como no caso do jornalismo que acabei de exemplificar, mas pode também alçar-se ao plano do conhecimento. Diferentemente da crítica, a análise do filme, segundo Jacques Aumont, tem por objetivo “esclarecer o funcionamento e propor uma interpretação da obra artística”. Por isso, o comentário extrafilme oriundo do conhecimento (sociologia, psicologia, história, psicanálise) difere do comentário jornalístico.

Ele é um dos pilares da análise do filme porque contribui decisivamente para compreender o funcionamento da obra e para interpretá-la. Não adianta apenas ter conhecimento de cinema (história e linguagem) para fazer a análise. É importante e fundamental que o conhecimento de quem a faz, resultado do acúmulo de longos anos de vivência e estudo, faça sentido e que o ajude efetivamente a descrever e interpretar a obra.

O professor Rubens Machado pergunta: “Quais são os procedimentos específicos da análise, do comentário e da interpretação? Qual é o espectro de possibilidades práticas e estilísticas de cada procedimento, e como se articulariam no conjunto do texto?”

Geralmente, peço ao aluno para 'blocar' o filme. Isso significa separar a tabela em quatro colunas. Ou seja, na primeira observar as sequências (cenas que comportam enquadramentos e planos; planos que comportam os ângulos de filmagem), anotando o tempo (minutagem), com um breve resumo do conteúdo (diálogos, vozes) e a indicação das alterações de enquadramento, planos e cenas. Essa blocagem pode ser separada em quatro colunas, deixando a mais à esquerda para breves anotações pessoais.

É um trabalho 'chato', conforme resmungam alguns alunos. Todavia, é o primeiro passo para o sucesso da empreitada. Sem a blocagem o trabalho é ainda maior e o analista pode encontrar sérios óbices mais adiante/lá na frente. Uma dica: feita a blocagem, fica fácil recordar uma sequência importante, recuperar um diálogo determinante ou mesmo apreender o “estilo” do cineasta.

A blocagem não precisa ser exaustiva (saturada e cheia de minúcias e detalhes), nos moldes dos procedimentos estruturalistas dos anos 70. Na maior parte das vezes, os adeptos dessa vertente teórica passaram a valorizar mais a 'equação' do que o filme, daí a análise tornar-se ser quase sempre ininteligível.

Após a blocagem, que só deve ser feita depois de ver o filme mais de uma vez, é hora de iniciar a composição do texto.

No próximo post, vamos comentar a importância e as características da descrição (análise), do comentário e da interpretação, antes de sugerir caminhos para a análise do filme.

Veja aqui um exemplo de blocagem do filme 'Juventude Transviada'."

Leia mais: Quem quer analisar um filme (parte 1).

Nenhum comentário: