Foto: David_Shankbone, via Wickpédia.
A forma como o veterano jornalista norte-americano Gay Talese, de 83 anos, vê, pratica e ensina o exercício da profissão pode parecer estranha a muitos dos comunicadores que vivem, hoje, o imediatismo imposto pela alta tecnologia. No entanto, as práticas de Talese – considerado por alguns críticos, ao lado do também jornalista e escritor Tom Wolfe, o pai do jornalismo literário – merecem estudo e, uma vez colocadas em prática, podem contribuir para garantir reportagens de mais qualidade, mesmo diante das tentações tecnológicas do mundo moderno.
Tentações essas que estavam presentes desde quando Talese ainda era um principiante no The New York Times, em 1956. Em recente entrevista ao jornal El Espectador, da Colômbia, ele lembra que, naquela época, a tecnologia que desviava os repórteres da essência do bom jornalismo era o telefone. Na redação, recebeu de um antigo repórter o conselho para deixar o aparelho de lado e sair em busca das pessoas. E foi o que ele sempre fez desde então. “Os grandes jornalistas têm que ver as pessoas comuns”, diz Talese. Para ele, dessa forma é possível retratar as histórias não apenas o mais próximo da verdade, mas também com o seu lado humano. “Todas as historias têm um rosto”, afirma.
Segundo ele, essa abordagem jornalística é cada vez mais rara, por conta da pressa imposta aos profissionais. “Um dos problemas da tecnologia, hoje mais do que nunca, é que não vemos o grande retrato, mas sim um pequeno, o do laptop, e vemos o mundo por meio dele. Não deixamos nossa casa nem escritório”, comenta Talese. “O jornalismo está decaindo no modo como eu o vejo”, sentencia.
No entanto, o jornalista norte-americano não deixa de detalhar as técnicas usadas por ele, como um antídoto à ameaça. Em primeiro lugar, diz, o jornalista precisa ter “sincera curiosidade”. Ou seja, “gana por conhecer a vida de outras pessoas, não apenas a sua” e, ainda, “ter sensibilidade sobre os sentimentos dessas pessoas”. Uma segunda característica necessária ao bom jornalista, ensina Talese, é a paciência: dedicar tempo ao entrevistado e vice-versa.
A terceira etapa, diz o jornalista norte-americano, é a organização do material coletado. Nesse caso, esse processo funciona como a criação de uma novela ou de um filme, incluindo as cenas, que precisam de início, meio e fim. A diferença, segundo ressalta Talese, está no fato de que o jornalista conta histórias reais. Na quarta lição, o veterano repórter recomenda escrever, reescrever e reescrever. “Há de se criar uma voz. Sem essa voz, não existe a escrita”, afirma. Por fim, Talese sintetiza suas recomendações em apenas uma frase. “Ter orgulho da verdade: é disso que se trata.”
Leia aqui o texto na íntegra.
Fonte: ANJ
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