domingo, 26 de outubro de 2008

Em defesa de "Os Corruptos"


por Alfredo Costa

Gosto muito do Rio, minha cidade natal. Mas, por estar há muito tempo "de costas para o litoral", como dizia JK, prefiro cultuar meu bairrismo na intimidade.

Morei 25 anos em Brasília, o que me fez conhecer os usos e costumes nativos de lá.

A placa do meu carro ainda é da Capital Federal. Só a de trás, porque a da frente, roubada, provavelmente agora decora a parede do quarto de algum adolescente, morador de Alto Araguaia (assim espero, porque a outra possibilidade é que esteja sendo usada por clonadores).

De vez em quando alguém nota a origem do meu carro. Ou melhor, o tempo todo: "o professor que veio de Brasília". Tudo bem, acho legal, embora por aqui ninguém me dê desconto nas lojas por isso. Pelo contrário...

Como o carro é grande e branco, já vi alguns meninos apontando para dizer: "olha lá a ambulância do Lula". Achei engraçado.

Mas, vou tentar não ser mal-humorado, por causa de um comentário que escutei hoje, em frente à placa do quilômetro zero, ao atravessar a ponte sobre o Rio Araguaia: "Caraca! Esse povo de Brasília é FDP e assume mesmo!"

Pôxa, o cara pegou pesado! Ele se referia a um adesivo no vidro traseiro do meu carro, que estampa: "Os Corruptos".

Explico. É o nome da banda do meu genro. "Os Corruptos" é uma banda que nasceu no 2º semestre de 2007, em Brasília, com a intenção de tocar rock and roll , punk rock. Inspirados em Motorhead, AC/DC, The Hellacopters, entre outras bandas, além de tocar músicas próprias. O nome é uma irônica crítica à banda podre dos políticos que são eleitos pela população dos Estados e, a partir daí, fazem todo o tipo de falcatrua na terra vermelha do Planalto Central.

Coitadinhos dos brasilienses nativos que levam tinta por causa dessa má-fama!

Porque penso nos brasilienses que ralam para ganhar o hambúrguer de cada dia. Penso na minha filha que lá nasceu e está sendo criada, e nos filhos dos meus amigos e dos trabalhadores que labutam no Plano Piloto e dormem nas cidades-satélites e no entorno.

"Neste país lugar melhor não há", cantava o "Legião". "Mesmo sem praia", acrescentam "Os Corruptos". A cidade acolhe muita gente, que fica por lá também nos fins de semana, passeando nas largas avenidas, fazendo churrasco nos clubes e tocando rock nos palcos ou nas garagens, enquanto os políticos voam para seus estados. É uma cidade maior do que eles. Por isso mesmo, cheia de virtudes e defeitos também. Como outra qualquer do Centro-Oeste.

Então e ponto final(como dizem meus alunos). Aquele abraço e não deixe de curtir "Os Corruptos". Quem sabe eles não vêm para o próximo Festival Náutíco de Alto Araguaia?

Veja e ouça "Os Corruptos" e acesse a comunidade da Banda no Orkut.

2 comentários:

Julio Cesar Reyes Junior disse...

Me ensina escrever assim...
Muito bom...

Letícia Jesus disse...

Adore a “crônica” sobre o pré-conceito que encontramos em terras estrangeiras. Faço-me voz presente, já que não só você, como os paulistas como eu, também são vítimas dos mesmos olhares julgadores. No entanto, sua forma simples de escrever inverte o cenário. Ironia, é a palavra que define seu texto.
Adorei! (rs)